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Função Materna: perguntas dirigidas a amigas-mães

Atualizado: 17 de jun. de 2023

Gicelma Barreto Nascimento

Entrevistadas: Aline Lima, Eylla Oliveira, Lindaura Matos, Luna Maia e Valéria Lima



É sabido que toda teoria psicanalítica aborda a relação das mães com seus filhos e dos filhos com suas mães, dessa forma não há clínica sem a escuta dos possíveis efeitos dessas relações naqueles que buscam análise. “Lacan desenvolve a noção de função materna para situar como um adulto estabelece com um bebê uma relação privilegiada, por meio da qual lhe transmite a linguagem, de modo a possibilitar sua constituição subjetiva” (Garrafa, 2020 pg. 61). Para a psicanálise a Função Materna é muito importante para o desenvolvimento psíquico da criança. Ela não precisa necessariamente ser exercida pela mãe real, podendo ser exercida por outros membros da família ou alguém próximo, porém, são as mulheres que em sua maioria cumprem e executam essa função.

No Brasil e em alguns países o dia das mães é comemorado no mês de maio. Pensando nessa data tão importante, esse escrito busca se aproximar de como é para cada mulher-mãe exercer a maternidade. Tornar-se mãe é uma experiência radical na vida da mulher, demanda entrega e cuidados intensos. Aqui fiz algumas perguntas a algumas amigas, em busca de escutar como é para cada uma delas ser mãe, ou seja, como essa experiência afeta cada uma delas em sua singularidade. A seguir você encontrará as respostas uma a uma, boa leitura!


Você escolheu ser mãe? O que te levou a decidir?


Sim. Apesar da ideia de ser mãe me assustar, especialmente pela mudança de vida que a maternidade gera, não cogitei não ser mãe, mas sabia que eu precisava me preparar psicologicamente para isso e ter certa independência financeira. Comecei a fazer terapia e fui desconstruindo alguns preconceitos sobre a maternidade. Outro fator que pesou nessa decisão foi ter casado com uma pessoa que sempre manifestou interesse em ter filhos e que entendia que a divisão de tarefas domésticas e cuidado com os filhos é de responsabilidade do casal. Isso me ajudou a me sentir mais segura em tomar a decisão. Por fim, chegou um momento em que a decisão precisava ser tomada e colocada em prática, pois as mulheres têm um relógio biológico e quanto mais tardia for a escolha em ser mãe maiores as dificuldades de gestar e de ter uma gestação de risco (Aline, mãe do Gabriel).


Eu escolhi ser mãe, tive uma gestação planejada! Eu sempre quis, nunca tive dúvidas. Minha decisão foi mais sobre o momento. O que me fez decidir o momento foram duas coisas: estabilidade de vínculo de trabalho ( hoje sou concursada); e me sentir disposta a mudar meu modo de vida. Só quis engravidar quando eu me senti tranquila em abrir mão das muitas horas de sono que eu tinha e amava ( risos). (Eylla, mãe da Maria Cecília).


“Eu não escolhi... descobrir com mais de 02 meses. Mas quando eu vi minha mãe doente pensei que ter um filho é não se sentir só nunca” (Lindaura, mãe do Antônio Jacob)


Sempre desejei ser mãe e ter filhos. O que me levou a decidir isso não foi algo racional, foi um sentimento de atração por esse universo da gravidez, parto, amamentação e maternar. Lembro-me de que ainda bem pequena eu dizia que teria vários filhos e brincava com uma almofada embaixo do vestido que eu estava grávida . Também recordo de ainda criança adorar estar perto de grávidas e de bebês (Luna, mãe da Ananda, Liz e Ben).


A maternidade é a coisa mais linda e difícil que eu faço na vida! Não é fácil. Não é apenas lindo. É sofrido, é dolorido no corpo e na alma, é cansativo, mas é incrível como experiência humana. É um sentimento tão forte que supera muita coisa, mas fácil não é. Sou mulher lésbica, na época da decisão pela maternidade estava casada, e em consenso decidimos ser mães, porém, este sonho nunca foi meu. Decidi pela maternidade, pelo amor e parceria com a minha esposa. Mas os contratos mudam e os filhos permanecem. Portanto, queiram filhos se, de fato, isso for uma vontade sua e de mais ninguém. Sua mãe, seu esposo ou esposa, a prima, a vizinha, as amigas, essas pessoas que cobram que você está na idade de ser mãe, vão estar com você, se forem muito presentes, algumas horas do dia apenas. O resto do dia é você, um bebê e uma rotina muito difícil (Valéria, mãe da Liz).


O que significa ser mãe pra você e quais os maiores desafios em maternar?


Aquela frase clichê “ser mãe é padecer no paraíso” é uma ótima definição do ser mãe, pois a maternidade envolve um misto de sentimentos e sensações, que podem transitar pela alegria, pela satisfação e por momentos de angústia, medo e cansaço. Os desafios já iniciam durante a gestação, pois o corpo sofre profundas transformações que repercutem tanto fisicamente quanto emocionalmente. Após o nascimento do bebê, vem o medo de não dar conta dos cuidados necessários e de ser totalmente responsável por outro ser, o sentimento de culpa por não sentir, imediatamente ao nascimento do filho, o amor incondicional que tanto falam, o cansaço pelas noites sem dormir e o consequente desgaste emocional que a privação do sono gera, as dificuldades na amamentação e o sentimento de incompetência quando, apesar de todos os esforços, não conseguimos amamentar, dentre outros. Não sei como eu conseguiria superar esses desafios iniciais se eu não tivesse tido uma rede de apoio! Em contrapartida, vamos nos encantado com cada descoberta do bebê, com o desenvolvimento das habilidades e a relação de afeto vai se fortalecendo, se tornando em um amor incondicional (Aline, mãe do Gabriel).


Ser mãe pra mim significa doação de si. Maternar muitas vezes é abrir mão do que é importante pra você pq agora existe um serzinho (um novo objeto causa de desejo) que se torna muito mais importante do que tudo que era importante. E isso pode até parecer bonito, mas é muito doloroso. O maior desafio pra mim é estar sempre cansada e sem previsão de descanso. Minha filha ainda é bebê, ainda mama, é muito dependente. (Eylla, mãe da Maria Cecília ).


Ser mãe é estar todo dia sendo amada e recebendo amor. É saber que vc tem um amor pra vida toda. O maior desafio é estar 100% pra ele, trabalhar e fazer todos os afazeres da casa, sem contar as várias opiniões do que você deveria fazer (Lindaura, mãe do Antônio Jacob).


Significa amadurecimento, crescimento, entrega, dor, alegria, uma mistura de muitos sentimentos. Quais os maiores desafios em maternar? Exaustão, vinda do acúmulo de tarefas que a mulher-mãe vivencia numa sociedade que ainda não sabe acolher e apoiar as mães. Outro grande desafio é conseguir praticar uma criação com apego e comunicação não violenta com os filhos em meio ao cotidiano estressante (Luna, mãe da Ananda, Liz e Ben).


Ser mãe é entrega absoluta. De tudo. Do corpo, do tempo, dos sonhos... Você deixa de ser você, ao menos por uns bons anos, para ser a mãe (Valéria, mãe da Liz).


O que você aprendeu ou aprende com seu filho ( a)?


Aprendi que o famoso “instinto maternal” é mais uma construção e expectativa social do que efetivamente algo natural e biológico, pois o amor é construído cotidianamente. Aprendi que um sorriso do meu filho pode mudar meu dia. Aprendi a ter mais gratidão e resiliência (Aline, mãe do Gabriel).


Eu aprendo muito sobre paciência. Ela me ensina o tempo todo que a vida não segue meu planejamento, e que por mais que eu AME planejar e ter a vida organizada, isso não me dá garantias de nada. (Eylla, mãe da Maria Cecília ).


A ter que ter paciência nas descobertas dele (Lindaura, mãe do Antônio Jacob).


Aprendo que sou humana, que estou errando bastante ainda, que aprendo enquanto ensino e ensino enquanto aprendo. Que meus filhos são bem diferentes de mim. Também aprendo a me perdoar e tentar ser mais paciente comigo e com eles, embora seja bem difícil às vezes (Luna, mãe da Ananda, Liz e Ben).


Liz é um encanto e me ensina todos os dias sobre leveza dentro do caos. É possível ser feliz ao ver uma caixa de papelão se tornar uma nave espacial. É possível ser feliz quando você troca a fronha do travesseiro e você ouve: Mamãe, que lindo! Vou dormir muito hoje porque minha cama está linda! É possível ser feliz quando no meio de uma brincadeira aleatória, do nada, ela olha e diz: Mamãe Val, eu te amo! (Valéria, mãe da Liz).


Por fim, quero agradecer a cada uma das minhas amigas-mães que se disponibilizaram a responder as perguntas sobre a experiência da maternidade. Foi um prazer escutá-las!



Referências


Garrafa, Thais (2020). Primeiros tempos da parentalidade. In: Parentalidade. Daniela Temperman, Thais Garrafa, Vera Iaconelli, (organizadoras). 1ªed. Belo Horizonte: Autêntica, 2020. Coleção Parentalidade e Psicanálise 1.




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