Carta ao país de origem - Brasil
- Diásphora Psi

- 2 sept
- 1 Min. de lectura
Tainã Rocha
Querido Brasil,
Carrego você como quem guarda uma fotografia antiga na carteira, às vezes esquecida no fundo, às vezes tirada às pressas para matar a saudade. Você está nas palavras que me escapam no meio de outra língua, no sotaque que resiste, no cheirinho de comida caseira presente em minha cozinha, nas músicas que me acompanham na solitude.
Contigo aprendi o sabor dos encontros que começam sem hora marcada e das conversas que se estendem muito depois de o assunto acabar. Foi aí que entendi o valor do pertencimento, não como um lugar fixo, mas como um jeito de estar no mundo. Mesmo distante, sigo sendo feita do barro da sua terra e do vento que sopra nas suas esquinas.
A cidade onde vivo hoje me deu outras ruas, outros cheiros e outros sons. Mas, certa vez, sonhei que caminhava por La Boca e, ao entrar num beco, saía no Pelourinho. Talvez a saudade funcione assim, abre passagens entre mundos que, no despertar, parecem tão distantes.
Acho que no final das contas migrar é mesmo como ter duas casas: uma onde os pés tocam e outra que vive inteira dentro de nós. A você, Brasil, agradeço por ser essa casa que nunca se desfaz, mesmo quando o endereço muda.
Com afeto,Tainã.







Comentarios