Carta ao país de acolhimento - Itália
- Diásphora Psi

- 4 sept
- 2 Min. de lectura
Amanda Nogueira Mochi
Querida Itália,
Quando te conheci, há quase 20 anos, não imaginava que um dia seríamos tão próximas. Foi fácil, para quem sai de São Paulo, gostar de você, afinal a influência italiana nos paulistas e seus “dois pastel e um chopps” é inegável.
O tempo passou, muitas águas passaram debaixo de muitas pontes para que você se apresentasse novamente para mim em forma de amor. Ou melhor, em forma de pátria de quem se tornou o meu parceiro de vida. E, assim sendo, eu não poderia ter feito outra coisa a não ser conhecer você melhor. A sua língua, um recorte de seus costumes, cidades que antes não conhecia nem no mapa. Há muito de você que eu não conheço. E, convenhamos, apesar de seu tamanho não tão extenso, quanta diferença de norte a sul você oferece!
Acho que o momento em que nosso flerte começou com mais seriedade foi quando meu amor me levou para conhecer a “cidade do amor”. Ainda estava longe de sonhar em me mudar para cá, quando lá no fundo do coração eu senti algo que me dizia: “Eu poderia morar nesta cidade”. Sentimento que logo decidi calar, porque nem sentido de verdade ainda fazia pensar nisso. Você então foi me apresentando experiências impensáveis. Montanhas onde aprendi a esquiar, um lago que aprendi a amar (apesar de suas praias de pedra), comidas várias (que como boa taurina é impossível não apreciar). O cenário para o meu casamento (logo eu que nem imaginava que queria casar).
E não é que aquele sentimento, que tentei calar lá atrás, se tornou uma possibilidade? Verona seria o lugar para chamar de lar. Viemos como uma pequena família, um bebezinho nos braços e um coração cheio de esperanças. Mas nem só de amor uma relação é construída, e não foi fácil me habituar a você como lar.
Ainda tem tanto, tanto de você que eu não entendo. A sua burocracia é cansativa, e eu ainda passo por uns bocados engolindo alguns bons sapos sem saber responder alguns modos que me incomodam. Sem contar os inúmeros dialetos desconhecidos. É sério mesmo, Itália, que você é uma só?
Hoje você é também o lugar onde nasceu minha segunda filha, e onde vejo minha família, cada vez mais, criar raízes. Eu sempre digo que migrar é criar asas, mas quando chegam os filhos em outro país, criamos raízes - e isso tem seu lado bom mas também outro ruim, como toda escolha na vida.
Sabe, Itália... cada vez mais, ao longo desses quase 8 anos, eu me vejo em você. Percebo nossa relação crescendo e você abrindo espaço para eu me sentir parte. Com muita construção dos dois lados, é verdade. Desejaria que você fosse assim com todas as outras pessoas que buscam abrigo por aqui, e desejariam te chamar de lar, como eu aprendi a fazer. Mas nesse aspecto você ainda é muito dura. É muito mais fácil te amar do que se sentir amada de volta por você. Mas apesar de tanto, e por causa de tanto, aqui estamos. Eu, me acostumando a ser mais “ítalo”. E você, acolhendo o meu “brasileira”.







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